Como aprender lentamente e com esforço

Apesar do título desse post ser apenas uma brincadeira, ele não poderia estar mais perto da verdadeira experiência de aprendizagem. Claro que não é impossível aprender rápido ou com facilidade mas aí provavelmente poderíamos discutir bastante sobre a qualidade do aprendizado em uma abordagem ou na outra. Pensando um pouco sobre essa experiência mais devagar prezando pela profundidade do aprendizado, resolvi contar um pouquinho sobre uma experiência pessoal.

Agora em Setembro tirei algumas semanas de férias e resolvi fazer um experimento aplicando algumas das estratégias de aprendizado que já comentei aqui no blog para tentar aprender algo novo. Apesar de acreditar na ciência, nos artigos e estudos que li sobre o assunto, percebi que estava estudando e falando muito sobre o assunto e ainda não tinha testado pessoalmente algumas das estratégias mais famosas e que deveriam apresentar os melhores resultados de aprendizado. Depois de mais ou menos 1 mês de testes, acho que já consigo fazer um relato de como tem sido essa experiência.

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Teoria da carga cognitiva

Há mais ou menos uns 2 anos atrás, participei de um treinamento experimental sobre como aprender com o Alberto Souza lá na Caelum. Na época, essa era uma dor que a nossa equipe de instrutores e instrutoras das aulas presenciais vinha enfrentando e estávamos buscando alguma forma de ajudar as pessoas a desenvolverem essa habilidade de aprender profundamente algum assunto.

A primeira sessão do treinamento consistia em ouvir uma música em inglês que ninguém conhecia tentando anotar todas as palavras que pudéssemos enquanto a música tocava. A ideia era demonstrar que cada vez que ouvíamos novamente a música, mais fácil ficava de identificar as palavras que faltavam. Até aí não parecia ter nada muito relacionado com aprendizado mas nas próximas sessões, repetimos o procedimento só que dessa vez a tarefa era ler um artigo científico sobre um tema que não conhecíamos. A cada leitura anotávamos o que tínhamos entendido e depois tínhamos uma breve sessão de discussão pra ver o que cada pessoa tinha entendido.

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Aulas online não deveriam ser novidade

Do dia pra noite, todos nós que trabalhamos com educação em formato presencial nos vimos com o desafio de migrar as nossas aulas para o formato online. Não tenho dúvidas que esta é uma mudança que parece assustadora no começo e que traz consigo uma série de desafios mas também é uma grande oportunidade para usarmos tudo o que sabemos sobre aprendizado para entregar a melhor experiência de aprendizado possível para quem precisa delas.

Pescando aqui na memória, me lembrei que o meu pai aprendeu a ser técnico em eletrônica fazendo ensino a distância no antigo Instituto Universal Brasileiro. Os materiais chegavam pelo correio, ele estudava no horário que era possível e enviava de volta os exercícios de cada aula para correção. Apesar de parecer uma situação bastante precária, esse formato foi suficiente para que ele aprendesse e fosse bem sucedido na profissão.

Se esse formato com todos os seus problemas foi suficiente nesse cenário, por que o cenário das aulas online não funcionaria ou por que ele parece alguma novidade? Temos uma grande quantidade de recursos e ferramentas pra ajudar com essa tarefa mas não podemos nos esquecer do principal: as pessoas são todas muito parecidas na forma como aprendem. Entregar uma boa aula seja por carta, online ou presencialmente vai depender do nosso próprio entendimento sobre o que rege o nosso próprio aprendizado e como podemos enxergar cada um desses formatos como o que eles realmente são: possíveis canais para se transmitir conhecimento.

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Para ensinar, primeiro você precisa ouvir

Vou te ensinar a chegar no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo com algumas instruções bem simples. Primeiro, você vai pegar a Rua Domingo de Morais no sentido sul, depois vai pegar a Sena Madureira mantendo-se à esquerda, entrar na Pedro Álvares Cabral e depois se manter à direita até chegar no destino. Fácil, não?

Eu sinceramente espero você nunca receba direções como no meu exemplo acima. O quão úteis elas são se você não mora em São Paulo e não conhece as ruas citadas? Será que essas instruções servem pra quem está a pé? Qual é o ponto de partida para usarmos as direções? Acho que já deu pra perceber que provavelmente não consegui atingir o meu objetivo de te ensinar a chegar no museu.

Apesar de eu ter falhado na primeira missão, espero que eu tenha mais sucesso na missão desse post que é te mostrar que a maioria das aulas que assistimos em nossas vidas acabam sofrendo dos mesmos problemas que acabamos de ver. Independente se você ensina ou se você quer aprender, vamos ver o que podemos fazer de diferente para alcançar um resultado melhor.

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Como estudar com estratégias eficazes

A prova está marcada para o final do mês. Como ainda está muito distante, deixamos para estudar numa data mais próxima porque se fizermos o preparo agora, provavelmente não vamos nos lembrar de muita coisa quando chegar o dia do teste. Quando falta um dia para a prova, usamos a estratégia de reler os capítulos relevantes, refazer as listas de exercícios e rever anotações de aulas. No dia seguinte, a prova acontece e algum tempo depois recebemos nossas notas. O que você imagina que vai acontecer?

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Sua memória é mais do que um repositório de informações

Quase todos os dias pela manhã, faço o mesmo ritual de preparo do café que me ajuda a iniciar o dia. É uma sequência de uns 7 ou 8 passos e enquanto os executo, faço uma revisão mental das tarefas do dia, problemas a resolver, contas pra pagar, jogos pra jogar e várias outras coisas. Em alguns dias, tudo acontece tão automaticamente que fico me questionando se não pulei algum passo.

É um cenário bastante diferente de quando tentei preparar sozinho o meu primeiro café. Estava munido apenas de uma série de instruções fornecidas pela minha mãe e a esperança de conseguir um café tão bom quanto o dela. Durante toda a execução, não conseguia pensar em outra coisa, estava focado em seguir à risca cada um dos passos que tinha memorizado. Depois de alguns momentos de tensão, lá estava eu com uma bela xícara de café nas mãos. Certamente não foi o melhor café que já tomei mas hoje ele serve como um ótimo exemplo para o tema desse texto.

A diferença entre os dois cenários é que antes eu não sabia fazer café e hoje eu sei. Você mesmo já deve ter passado por algumas experiências parecidas onde o aprendizado transformou uma tarefa complexa em algo tão simples que é como se você não precisasse pensar para executá-la. Para entender como isso acontece, vamos precisar começar bem devagar conhecendo algumas das estruturas cognitivas que possibilitam o aprendizado.

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Você já sabe aprender

Há alguns bons anos atrás, quando tinha entre 6 e 7 anos, lembro que comecei a aprender programação apenas copiando os exemplos de um manual que tinha vindo junto com o computador do meu pai. O manual era bem direto e mostrava cada comando da linguagem e um código curto de como aquele comando poderia ser utilizado pra fazer alguma coisa. Não demorou muito tempo e descobri que dava pra combinar esses comandos e fazer pequenos sistemas para tornar as brincadeiras com meus irmãos mais divertidas. Agora já dava pra saber quanto de dinheiro eles me deviam e até mesmo simular o tempo de abastecimento quando eles passavam no posto de gasolina feito com dominós e cartas de baralho.

Estava me lembrando desses meus primeiros passos e fiquei me questionando como foi possível eu ter aprendido a programar dessa forma. A motivação me parece bem clara mas imagino que nessa época eu devia estar começando a ir pra escola e provavelmente nem tudo que estava naquele manual fazia sentido pra mim. Como eu sabia que copiar os exemplos e testá-los faria com que eu aprendesse tudo aquilo e conseguisse fazer os meus sistemas de brincadeira? Meu chute é que estava apenas replicando o que eu via meu pai fazer e tenho certeza que ele não precisou me explicar isso.

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